Verdades e mentiras sobre o que se conta da guerra

Quando Orson Welles transmitiu “A guerra dos mundos” numa peça radiofônica em 1938 e colocou cidades em pânico com pessoas pensando que era uma verdadeira invasão alienígena, dois mundos realmente entraram em guerra: o da realidade e o das ficções midiáticas, o mundo dos acontecimentos e o mundo dos relatos sobre acontecimentos, o mundo real e o mundo projetado pelas mídias. O mundo projetado pelas mídias é uma representação ou ficção da realidade que muitas vezes está em conflito com ela, com o que é vivo nela, com o que vive a realidade, por mais que as mídias defendam que o que fazem é “ao vivo”. Diferente do que as mídias dizem, não é a realidade o que mostram ao vivo e o que defendem é senão a morte da realidade do vivo. O relato e imagem ao vivo é, na realidade, um relato de sua morte, um desejo de morte da realidade e do que é vivo.

Do golpe à solução final, de Maquiavel a Walter Benjamin

A violência é uma solução para problemas, sejam eles pessoais, motivados por traumas passados, sejam eles sociais, econômicos e políticos, motivados pelo poder. É uma reação a algo que acontece com alguém. Um ato movido pelo desejo sem intermediários, um desejo de violência, um desejo que produz violência e se produz violentando. Pode-se “pensar” a violência, antecipá-la, premeditá-la, ensiná-la num curso preparatório mostrando, por exemplo, como não matar, mas também como se matar alguém numa viatura transformada em “câmara de gás”, como aprendem policiais, mas o ato de violência é reativo, uma reação ao momento, mesmo que se se prepare para ele longamente, à espera de um momento para pôr em prática a violência que aprendeu na teoria, quando a violência se torna um golpe ou a solução final. Assim os militares, do Exército e da polícia, esperam ansiosamente pôr em prática a violência aprendida na escola e resolverem os problemas, os seus e os sociais, econômicos e políticos por meio de um golpe, pondo uma solução final aos problemas. É através da guerra entre Estados e nações, ou nas ruas das cidades, que se anseia o golpe e solução para todos os problemas, uma guerra automática, movida por violências passadas, como pressupus no texto anterior.

Leo e Pedro, jovens do Jangurussu unidos pela arte

“Pedro”, o mais recente curta-metragem de Leo Silva, aborda a memória e as vivências infantis no bairro em que cresceu e que mora até hoje. Leo argumenta, contudo, que o filme não é uma autobiografia. A ideia de fazer o audiovisual nasceu da infância abreviada que teve, pois logo teve que assumir responsabilidades, como o trabalho. Os atores também são moradores do Jangurussu. Sobre a relação dos jovens com a comunidade, Leo Silva afirma que perdeu diversos amigos de infância para a violência armada e que a comunidade é um alvo fácil para a criminalidade. Apesar da falta de oportunidade atrapalhar o desenvolvimento profissional nas periferias, o cineasta destaca que é importante ter proatividade, como ele teve em buscar seus cursos.

Os crimes de guerra sob a análise de Walter Benjamin

A guerra se tornou uma arte pela arte, a morte pela morte, uma retórica propriamente dita, sem ninguém para se responsabilizar por ela, é a banalidade do mal sobre a qual nos adverte Hannah Arendt em seguida a Benjamin, o crime perfeito que não deixa suspeito, o crime pelo qual não há nenhuma culpa e nenhuma desculpa. A morte pela qual não há nenhuma dor, sofrimento, nem tão pouco ressentimento. É o fascismo injetado nas veias por uma bomba atômica ou de fósforo que mata por dentro, imediatamente, de uma vez, por explosão, mas também aos poucos, conduzindo à morte agonizante por ódio mobilizado pela retórica da guerra que incita uma nação a cometer crimes de guerra sem culpa alguma por ela e pelos mortos nela, pois a culpa é sempre dos outros.

Livro aborda o olhar de um policial-escritor sobre a violência em Fortaleza

A obra intitulada “Crônicas da periferia. Histórias de violência e redenção” será lançada nesta quinta-feira, dia 7, na Livraria Lamarca. No evento, será realizada uma exposição fotográfica com imagens que ilustram o livro. De acordo com o inspetor, a sua intenção é contar as histórias que já presenciou ao longo das ocorrências policiais. “As fotografias mostram a relação das pessoas com a violência. Elas não exploram cadáveres, mas demostram a realidade de violência que crianças e jovens estão inseridos desde cedo”, afirma Cláudio Marques.

A retórica fascista da guerra

O que vemos acontecer na Ucrânia não é apenas uma disputa territorial, mas também o retorno de antigos traumas de guerra e de uma retórica de guerra diferente a partir de cada envolvido. Por um lado, neonazistas ucranianos defendem a Ucrânia a partir do antigo ressentimento pela guerra perdida pelos nazistas alemães utilizando o nacionalismo como uma defesa do Estado contra minorias. Por outro, Russos se ressentem do avanço militar da OTAN em países do leste europeu em desacordo com os tratados pós-guerra e, em contrapartida a OTAN e demais países do mundo revivem os traumas com o comunismo numa ofensiva de sanções e restrições à Rússia somente comparável às sanções e restrições dos países capitalistas à Cuba.

As marcas e os traumas dos nossos conflitos cotidianos

Se as palavras que descrevem uma guerra na literatura e as imagens de guerra em filmes produzem tanto uma sensação de medo, terror e horror é porque nos violentam e deixam marcas que fazem o corpo gritar e chorar realmente, pois sabe que não são simplesmente fictícias, é uma realidade. E é uma realidade ainda mais para aqueles que vivem semelhante aos que vivem em guerra real, com os nervos à flor da pele, pois o cotidiano de conflito deixa marcas de violência como na guerra, violenta-nos e nos mata aos poucos com traumas profundos até a morte iminente. Ou seja, as marcas de guerra são vivenciadas por nós mesmo que não vivamos numa guerra de verdade, mas outros querem que vivamos, em constante retórica de guerra de uns contra os outros ao criarem inimigos fictícios que se tornam reais para nos traumatizar e traumatizar ainda mais com palavras e imagens aqueles que já vivem em conflito devido à violência cotidiana.

Mais três bairros também registram casos de perda de vacina por medo das facções; Prefeitura não se pronuncia

Jovens de pelo menos mais três bairros de Fortaleza, Serrinha, Itaperi e Damas, perderam a vacina contra a Covid-19 por causa do agendamento ter sido marcado para uma unidade de saúde situada em um território dominado por uma facção rival. O medo de que possam ser vítimas de algum tipo de violência no trajeto entre a residência e o posto de vacinação impede que o deslocamento seja feito. Conforme o Blog Escrivaninha apurou, a partir de relato dos próprios profissionais da área da Saúde, nem mesmo o Centro de Eventos representa um local seguro, haja vista o equipamento público estar instalado em uma área sob a influência dos Guardiões do Estado (GDE).

Homero: o precursor da glorificação estética da violência na guerra

Homero foi o primeiro a nos fazer delirar com as cenas violência de uma guerra sem estarmos nela e a desejarmos estar nela guerreando em defesa de um povo. Não por acaso se tornou um educador da aristocracia guerreira que dominava à época por meio do poder da violência militar, forçando todos a obedecer às ordens militares e serem educados para serem militares como em Esparta. Não por acaso, o poeta passou também a ser criticado pelos filósofos, e principalmente por Platão, quando Atenas se tornou uma democracia e o povo retirou o poder das mãos dos militares aristocráticos oligarcas que a dominavam e a não valorizar os atos guerreiros, os feitos de guerra.

O racismo por trás de nossos espelhos

Resenha do filme documentário “Além do Espelho”, dirigido por Ana Flauzina, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e autora do livro: Corpo Negro caído no chão: o sistema penal e o projeto genocida do Estado brasileiro demonstra como a obra cinematográfica promove o encontro de duas grandes vozes do movimento negro, o jornalista Edson Cardoso e o cineasta etíope Haile Gerima.