Número de policiais militares mortos por Covid-19 no Ceará chega a 42

Nesta série de reportagens, abordaremos a dificuldade enfrentada pelos profissionais de segurança pública durante a pandemia, bem como o luto e a dor das famílias que perderam seus entes. No artigo de hoje, mostramos que há uma divergência entre o número de mortos por Covid-19. Número de policiais militares que perderam suas vidas por causa do Coronavírus chega a 42.

Por Dayanne Borges e Ricardo Moura

Embora a precisão dos dados seja um item fundamental para o estabelecimento de estratégias de controle e prevenção à pandemia do Coronavírus, falta um diagnóstico mais preciso sobre como a doença está afetando os profissionais da segurança pública do Ceará. Essa é uma preocupação relevante, haja vista que muitos desses agentes estão na linha de frente para fazer com que os decretos de isolamento social rígido possam ser respeitados. Em menos de um ano, por exemplo, Fortaleza passou por dois lockdowns, o que exigiu um esforço extraordinário de quem atua na área.

O grau de exposição ao vírus entre os policiais, na comparação com outras categorias profissionais, é muito maior. Não há possibilidade de coibir o descumprimento dos decretos por meio do teletrabalho. A exposição é inevitável e o risco de contágio só diminui com a adoção de medidas sanitárias, como higienização dos veículos e uso de equipamentos de proteção individual (EPIs). Os relatos que chegam ao blog, contudo, são de que muitas vezes os agentes precisam arcar com sua própria proteção, haja vista não haver disponibilização de itens básicos, como máscaras adequadas. Além disso, os números de agentes da segurança infectados e mortos pela doença apresentam divergências relevantes, dependendo de qual seja a origem dos dados, fazendo com que muitos casos e óbitos causados pela Covid-19 tornem-se invisíveis à sociedade.

Levantamento recente feito pelo Monitor da Violência, do portal de notícias G1, expôs os números de policiais contaminados e falecidos pela Covid-19 em cada estado brasileiro. No Ceará, de acordo com as informações prestadas pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) ao site, 7.488 policiais civis e militares tiveram de se ausentar do serviço em algum momento, ou seja, 30.68% de um efetivo total de 24.410 pessoas. Em relação à letalidade da doença, 18 policiais civis e militares teriam morrido por Coronavírus no Ceará, conforme os dados divulgados pelo órgão.

Os números da Associação das Praças do Estado do Ceará (Aspra-CE), contudo, divergem frontalmente dos dados apresentados pela secretaria. Segundo a entidade, 42 policiais militares, da ativa (incluindo os que trabalham na Segurança Patrimonial), morreram por causa da Covid-19. Somente no mês de março, de acordo com o Comando-Geral da PM, 15 policiais militares morreram em decorrência da doença. Ainda segundo a estimativa da associação, o número total de profissionais infectados chegou a 6,8 mil em um efetivo de 20,6 mil pessoas. Vale ressaltar que a estatística da Aspra leva em consideração apenas policiais militares.

Em nota, a assessoria de comunicação da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que os casos confirmados e óbitos por Covid-19 entre profissionais da segurança são acompanhados pela Coordenadoria de Saúde e Assistência Social e Religiosa (CSASR) da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e pelo Departamento de Assistência Médica e Psicossocial (Damps) da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), além do diálogo contínuo com os familiares dos pacientes. Entre março de 2020 e abril de 2021, de acordo com a assessoria, foram registrados 41 óbitos entre policiais militares. 

Somente este ano, a Aspra publicou 72 notas de pesar de policiais militares da ativa e da reserva em suas redes sociais. A associação é uma das poucas entidades de assistência a militares que chamam atenção para a letalidade da doença. Desde 8 de março, as postagens no Instagram começaram a vir com a seguinte inscrição “morte em decorrência da Covid-19”. A primeira nota de pesar contendo essa informação refere-se ao subtenente PM William Bandeira Barros, de 62 anos. A nota mais recente é do dia 28 de abril e faz menção ao sargento PM Luiz Hilário Filho, de 65 anos. Até o momento, 17 policiais militares, da ativa e da reserva, tiveram a causa da morte identificada expressamente como Covid-19 nas publicações.

De acordo com o vice-presidente da Aspra, sargento PM Wendson Borges, o levantamento se fez necessário para alertar os associados em relação à gravidade da doença. “Ainda existiam muitas pessoas, em especial dentro da tropa, que minimizavam a Covid-19. Como os militares estaduais estão diretamente em risco em razão do labor desempenhado, era necessário explicitar essa realidade. Com certeza não havia o conhecimento de tantos óbitos em razão do Covid-19, mesmo estando estampado corriqueiramente uma nota de pesar nos nossos canis de comunicação”, explica o militar.

Subtenente foi o primeiro a ter menção expressa da Covid-19 como causa da morte

A evolução dos óbitos choca-se com os dados divulgados pela própria corporação. Os números apresentados pela coordenadoria de Saúde e Assistência Social da Polícia Militar do Ceará, no período entre março e julho de 2020, eram os seguintes: 1.386 casos de Covid-19 confirmados, 4.988 agentes afastados e 13 policiais militares mortos pela doença. Levando-se em consideração os números oficiais apresentados no Monitor da Violência do G1, somente cinco policiais civis e militares teriam morrido por Coronavírus a mais desde então. É uma conta difícil de fechar.

A discrepância nos números e a ausência de uma estatística oficial são pautas recorrentes no Blog Escrivaninha, que vem fazendo o registro das causas das mortes dos profissionais em seu Instagram. É sabido que nem todos os óbitos são registrados como decorrentes da doença, embora os sintomas por vezes sejam evidentes. Certamente há uma subnotificação nesses registros. Aprimorar e tornar pública essa estatística, no entanto, parece ser algo que não interessa nem ao Governo do Estado e nem aos seus opositores.

Para não arruinar a narrativa oficial criada em torno da pandemia, muitas entidades, políticos e líderes religiosos calam-se sobre o efeito devastador do Coronavírus nas forças de segurança. Saber o número exato de profissionais que morreram de Covid é uma tarefa árdua. Se há contabilização sistemática das vítimas, esse número não passa por divulgação pública. Evita-se a todo custo falar sobre as causas de tantos mortes, embora o motivo seja mais que conhecido para que perdeu algum ente querido em meio à pandemia.

Inscrição mencionando diretamente o Coronavírus busca alertar autoridades para riscos aos quais profissionais estão submetidos

PLANO DE CONTINGÊNCIA DA PM DUROU APENAS QUATRO MESES NA PRIMEIRA ONDA DE COVID-19 NO CEARÁ

Após o primeiro registro de caso confirmado de Covid no Ceará, no dia 15 de março de 2020, a Polícia Militar pôs em prática um plano de contingência prevendo o estabelecimento de protocolos de higienização, redução do expediente e uso de vidros abaixados nas viaturas.

A segunda semana de maio foi o período mais agudo da doença. A instituição teve 1.666 policiais afastados naquele período por apresentar algum tipo de sintoma de síndrome gripal, como: febre, dor de cabeça, dor muscular, coriza e tosse seca. Tratou-se de uma redução de cerca de 8% em um efetivo que gira em torno de 22 mil pessoas. O número não inclui ausências por férias e licenças diversas.

O agravamento do quadro de casos e infecções fez com que um fluxo de triagem, monitoramento dos casos e afastamento fosse executado até o dia 31 de julho, o período mais crítico da primeira onda da pandemia. De acordo com a coordenadoria de Saúde da PM, as normas do Ministério da Saúde e da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) foram balizas importantes para definição do que seria feito caso a caso. Cada ligação envolvendo os profissionais e a equipe de monitoramento no período foi contabilizada. Entre março e julho, 17.470 contatos foram travados com 6,5 mil policiais.

Após esse período de monitoramento intensivo, os esforços se concentraram no que foi denominado por “autocuidado suportado”, em que os próprios policiais passaram a assumir os cuidados de prevenção.

APOIO E CUIDADO PARA OS POLICIAIS QUE SOFREM COM A DOENÇA

O vice-presidente da Associação das Praças do Estado do Ceará (Aspra), sargento PM Wendson Borges, afirma que a entidade busca apoiar seus associados por meio de orientações de cuidados, acompanhamento do quadro de saúde e prestação de serviços jurídicos para o direito à saúde, em situações nas quais em que há a morte do militar.

“Nesses casos, o amparo ocorre por meio de prestação de condolências e orientações iniciais à família quanto à questão dos direitos dos dependentes. É feito ainda um acompanhamento durante o devido trâmite legal, que inclui nosso auxílio financeiro para o funeral. Também é oferecido apoio psicológico aos dependentes enlutados pela perda do associado”, explica o sargento.

De acordo com Wendson Borges, muito do trabalho do setor Biopsicossocial da Aspra foi prejudicado pela Covid-19, pois não está sendo possível a realização de acolhimentos sociais presenciais e nem visitas domiciliares e institucionais aos associados. Os atendimentos odontológicos também foram reduzidos ou suspensos em alguns momentos.

SECRETARIA DESTACA ADOÇÃO DE MEDIDAS DE PREVENÇÃO E VACINAÇÃO PARA PROFISSIONAIS

Segue nota enviada ao Blog Escrivaninha pela Assessoria de Comunicação da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS):

A SSPDS informa que iniciou a vacinação contra a Covid-19 dos profissionais do Sistema de Segurança Pública, lotados em Fortaleza, em abril deste ano. A imunização foi resultado do esforço e articulação do Governo do Ceará para a antecipação dos profissionais de segurança nos grupos prioritários. A ação também teve início nos municípios do Interior. Toda vez que chegam novas doses de vacinas no Estado, um percentual é destinado aos profissionais da Segurança Pública para que se consiga, o mais rápido possível, imunizar todos aqueles que estão na linha de frente.

A pasta adota, desde março de 2020, medidas para combater a contaminação de policiais civis e militares pela Covid-19. Além da higienização em delegacias e outros equipamentos vinculados, a pasta disponibiliza álcool em gel e máscaras para as mulheres e homens que atuam para garantir a segurança da população cearense. A higienização consiste na limpeza de compartimentos, mobílias e áreas externas dos locais. As equipes utilizam produtos eficazes na limpeza de superfícies propícias à presença do vírus. O cuidado também vem sendo realizado nas viaturas, que são submetidas ao mesmo processo. Assim como as composições, que recebem álcool em gel para ser utilizado na prevenção às contaminações.

A SSPDS põe em prática um plano voltado para a integridade física de seus agentes da segurança pública e a manutenção dos serviços essenciais em todo o Estado do Ceará. A pasta viabilizou a aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para todos os profissionais da segurança pública que precisam desempenhar suas atividades durante a pandemia. Ao todo, já foram entregues mais de 200 mil máscaras, mais de 20 mil litros de álcool em gel, 1.500 litros de álcool líquido e mais de 12 mil escudos de proteção facial, entre outros materiais, como água sanitária, luvas, borrifadores e papéis toalhas adquiridos pela SSPDS e suas vinculadas, bem como oriundos de doações de instituições parceiras.

Além disso, a Assessoria de Assistência Biopsicossocial (Abips) da SSPDS realiza testes em todos os profissionais da pasta e de suas vinculadas, visando maior segurança na retomada gradual das atividades. Policiais civis e militares são imediatamente afastados de suas atividades após testarem positivo ou apresentarem suspeita de estarem com a Covid-19. É importante ressaltar que ao apresentar sintomas gripais, o profissional já é afastado preventivamente.

O plano também estabelece que atividades administrativas em todas as vinculadas sejam realizadas remotamente, sem a necessidade de o servidor se deslocar aos locais de trabalho, comparecendo às unidades apenas se houver necessidade”.

O texto foi atualizado às 22h56 do dia 6 de maio com as informações enviadas pela SSPDS ao Blog por meio de nota.

NESTA SEXTA, DIA 07/05: Na segunda reportagem da série, o Blog Escrivaninha apresenta um relato sobre como a pandemia está afetando a Polícia Civil.

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