Três adolescentes foram baleados por um colega na Escola Estadual Professora Carmosina Ferreira Gomes, no Bairro Sumaré, no município de Sobral (CE). Eles foram vítimas de uma dupla irresponsabilidade: da política de liberação irrestrita do acesso às armas de fogo ao homem que deixou o armamento acessível ao adolescente.
Por Ricardo Moura
As imagens que chegam pelo celular são terríveis: adolescentes sentados em suas carteiras escolares sangrando após terem sido alvejados a bala por um colega de turma. Para quem é pai e tem filho em idade escolar a sensação de angústia é imediata. Tiroteios em massa em escolas são temas recorrentes de reportagens e filmes, mas ver os danos causados por uma ação como essa em uma cidade tão próxima como Sobral deveria acender um alerta em toda a sociedade.
Debater a motivação do atirador é tergiversar do principal problema. Preocupa saber que todos nós podemos ser vítimas da irresponsabilidade alheia. O revólver utilizado pertence a um integrante do grupo formado por colecionadores, atiradores esportivos e caçadores (CAC). A arma certamente deve ter sido registrada e comprada de forma legalizada. Tal instrumento, contudo, não deveria estar ao alcance das mãos de um adolescente. Possuir armas de fogo em uma residência exige cuidados redobrados que, pelo visto, não foram tomados.
Em um nível mais elevado, a irresponsabilidade se dá quando a política mais bem sucedida do Governo Federal consiste na terceirização da responsabilidade sobre a área da segurança pública ao promover a liberação do uso indiscriminado de armas de fogo. A aquisição de pistolas, revólveres e fuzis disparou. Em paralelo, os controles sobre a compra, o registro e a circulação dos armamentos foram afrouxados.
Com o objetivo de burlar as limitações impostas pelo Estatuto do Desarmamento, os CACs ganharam um protagonismo inédito, empoderando-se ao ponto de poder articular candidaturas ao parlamento visando a defesa dos seus interesses. Os estudos demonstram que os assassinatos por arma de fogo só aumentam com a desregulamentação e a ampliação do número de armamentos em circulação. Nessa contabilidade, não estão incluídos os feridos a bala e os traumas psicológicos causados por viver uma situação limite como um ataque à escola, um ambiente de aprendizado, interação e construção de afetos. Enquanto isso, a autoridade máxima do país faz campanha com os dedos em formato de arminha, em uma clara chancela à resolução dos conflitos por meio da violência armada. Por certo, não ouviremos do presidente nenhuma palavra de conforto ou reprimenda ao ocorrido na escola de Sobral. É até melhor. Poderia haver o risco de a resposta ser: “E daí? Não sou médico”.