Após a remoção de pessoas em situação de rua da Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza, movimentos e organismos eclesiais assinaram uma nota de repúdio à Prefeitura nesta segunda, dia 27. Confira o texto na íntegra:
NOTA DE REPÚDIO DO FORUM DA RUA DE FORTALEZA
Violação de Direitos da População em Situação de Rua em Fortaleza/CE
Na quinta-feira (23/09/2021), a População em Situação de Rua que vive na Praça do Ferreira no Centro de Fortaleza, foi vítima de uma ação truculenta da Prefeitura de Fortaleza. A ação consistiu na retirada das pessoas e de seus pertences. Agentes da Guarda Municipal de Fortaleza, e da Agência de Fiscalização de Fortaleza, ligados a Prefeitura, forçadamente, recolheram todos os pertences (remédios, redes, papelões, cobertores, bolsas, dentre outros) das pessoas que vivem em situação de rua sendo parte deles mulheres, crianças e idosos.
Essa é uma ação frequente, sobretudo nesta época, onde a Prefeitura começa a enfeitar a praça para festas de natal. Também há reclamações de comerciantes do local, que apoiam a ação e fazem pressão para que o fato ocorra. Além da ação ser ilegal, os agentes se utilizam de abordagens abusivas, violentas e por vezes ameaçam atirar na População em Situação de Rua.
Desta vez, o clima não se intensificou devido a presença das Irmãs da Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, que sempre às quintas-feiras fazem uma ação em prol da população, levando o Projeto Banho Vicentino e alimentação. As irmãs presenciaram o ocorrido e repudiaram a abordagem, sobretudo, a violação permanente dos direitos dessas pessoas. Vale ressaltar que Fortaleza possui inúmeros prédios ociosos, que não cumprem função social, que poderiam ser adaptados e utilizados para acolher esses irmãos.
O Fórum da Rua de Fortaleza formado por Entidades que atuam na defesa e garantia de direitos do povo da rua vem manifestar nosso expresso repúdio, indignação e pedido de providências urgentes contra as graves violações ocorridas em Fortaleza por parte da Prefeitura contra a População em Situação de Rua.
Ações higienistas têm acontecido corriqueiramente nessa cidade e são muitas as denúncias que temos recebido nos últimos dias. Entendemos que não é possível dissociar a cruel realidade da ausência de políticas públicas e humanizadas para a População em Situação de Rua, a falta de orçamento ou a não aplicação deste em direitos sociais fundamentais, as ações higienistas e de limpeza social, de retirada compulsória, do grave número de subnotificação de homicídio e abandono social dessa população.
Vivermos em sociedade nos cobra compromisso com o Estado Democrático de Direito e eficácia das instituições quanto a defesa plena dos direitos de todas as pessoas. Logo, nossa Constituição da República de 1988 garante que todas as pessoas são titulares de direitos fundamentais, devendo ser assegurada a efetividade do direito à vida, à liberdade, à igualdade e à segurança, além dos direitos sociais elencados no artigo 6º.
Entende-se que a ação põe em risco princípios e regras contidas no Decreto Federal nº 7.053/09, que instituiu a Política Nacional para a População em Situação de Rua e que tem como diretrizes a superação do preconceito e a democratização do acesso e da fruição de espaços e serviços públicos.
A medida adotada de forma desarticulada com os serviços de cuidado à população em situação de rua amplia a vulnerabilidade dessas famílias que agora irão continuar na rua sem seus poucos pertences. A reiterada condição de exclusão e discriminação enfrentada pela População em Situação de Rua atentam contra dignidade, violam direitos básicos, criminalizam a pobreza e transformam em caso de polícia uma crônica demanda por políticas sociais que garantam direitos plenos para essa parcela da população.
Coibir essas práticas é uma responsabilidade urgente e necessária do sistema de justiça. Portanto, os órgãos de defensa dos Direitos Humanos serão acionados por nossa equipe jurídica, pois o não enfrentamento de atitudes teratológicas como essas poderão se replicar em outros municípios que visam a capital como referência.
Defendemos, portanto, que o Poder de Polícia do Estado seja utilizado para proteger, zelar, cuidar e garantir os direitos de todos e todas, em especial, dos mais vulneráveis. A População em Situação de Rua resistirá!
Fortaleza/CE, 27 de setembro de 2021.
Assinam:
– Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de Fortaleza
– Maria Ângela Leão H. Madeira
– Fernanda Gonçalves de Souza
– Maria Leda Moura de Miranda
– Geraldo Magella Gino de Amorim
– Fernando Antônio Araújo
– Erisvanda Bezerra da Silva
– Magaly Marques Lima
– Ir. Waldilene Xavier Pinto
– Maria Lucimar Da Costa Gomes
– Francisca da Silva Maia
– Pe. Isaias Mendes Barbosa, CSsR
– Frei Marcondes Uchoa da Silva, OFM
– Pe. Francisco Maurício Lopes da Silva, Pároco de Tabuba
– Ir. Eugênia Maciel Costa
– Frei Lorrane Clementino, OFM
– Pe. Lino Allegri
– Ir. Maria Cilene Reis da Costa
– José Odahi Magalhães, (Construção do Poder Popular) OPA
– Articulação das Pastorais Sociais
– CEBs e Organismos da Arquidiocese de Fortaleza
– Conferência dos Religiosos do Brasil, Regional Ceará
– Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil
– Pastoral da Juventude do Meio Popular do Regional Nordeste 1
– Pastoral Carcerária e Pastoral do Menor
– Irmãs Franciscanas Bernardinas
– Emilie Collin Silva Kluwen, Fórum Nucom
– Pe. Ermanno Allegri – Movimento Igreja em Saída
– André Luiz Barbosa Souza, Coletivo Arruaça
– Pingo de Fortaleza – Cantor e Compositor
– Andréa Ferreira Lima Esmeraldo
– Comitê Estadual de Políticas Públicas da População em Situação de Rua CEPOP
– Instituto Compartilha
– Ana Cristina Braga Rodrigues
– Lídia Valesca Pimentel, Grupo Espírita Casa da Sopa, Fórum de Rua de Fortaleza
– Associação Beneficente O Pequeno Nazareno
– Rede Nacional Criança Não É De Rua
– Centro de Defesa da Vida Herbert de Sousa
– Caritas Brasileira Regional Ceará
– Coletivo Girassóis Espíritas Pelo Bem Comum
– Caritas Arquidiocesana de Fortaleza
– Redentoristas da Vice Província de Fortaleza
– Rede de Mulheres Negras do Ceará
– Antônio Tiago do Nascimento Lima
– Mons. Sérvulo Sousa, Igreja Vétero Católica da América Latina
– Igreja Apostólica Filhos da Luz
– Renafro
– Igreja da Comunidade Metropolitana de Fortaleza
– OPA – Organização Popular
– Pastoral da Pessoa Idosa
– Pastoral da AIDS
– Núcleo de Psicologia Comunitária da UFC
– Movimento Nacional da População de Rua – MNPR/CE
– Comitê Islâmico de Solidariedade
– Antônia Lima Sousa, 78ª Promotoria de Justiça de Fortaleza
– Antônio Arlindo Ferreira
– Antônio Josivan da Silva
– Vitória Cesário da Silva
– Serena Silva
– Associação Cultural Afro Brasileira Pai Luiz de Aruanda
– Associação Espírita de Umbanda São Miguel, AEUSM
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Sem políticas públicas e com o abuso do poder público, vive o povo das ruas. Não é possível continuar aceitando essa barbárie. Gratidão as Congregações e organismos que lutam pelos direitos de nossa gente sofrida!
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