A Paróquia da Paz vive os efeitos de uma “guerra fria” causada pela polarização política e por desentendimentos sobre as decisões tomadas pela Igreja Católica após o papado de Francisco, bem como a chegada à paróquia de sacerdotes alinhados aos novos rumos do Vaticano.
Por Dayanne Borges e Ricardo Moura
Em 2 de fevereiro de 2021, a Paróquia Nossa Senhora da Paz completou 60 anos de existência. Localizada na avenida Visconde de Mauá, a Igreja da Paz foi o primeiro templo católico a ser construído no Meireles, um dos bairros mais ricos de Fortaleza e um dos metros quadrados mais caros da capital cearense.
Em sua história, a Paróquia da Paz teve apenas quatro párocos: monsenhor Amarílio, padre Suzanito, padre Virgínio e o atual, padre Oliveira, que está no cargo desde 2017. O sacerdote atuou em comunidades religiosas da periferia e possui um perfil identificado com os valores de uma igreja mais progressista. Os problemas sociais são uma pauta bastante pertinente em sua gestão. Entre os edifícios e os diversos serviços existentes no entorno da igreja, existem áreas vulneráveis no bairro que são atendidas pelo trabalho social da paróquia. Atualmente, cerca de 3 mil cestas básicas são distribuídas às pessoas carentes que também recebem atendimento médico.
Essa atuação beneficente gera um ponto de discórdia entre a comunidade. Há quem se incomode com uma suposta sobreposição da ação social à política partidária. Esse descontentamento não é exclusivo da Paróquia da Paz. O papa Francisco vem sendo alvo de fortes questionamentos no interior da Igreja Católica por seus posicionamentos sobre determinados temas tidas como “progressistas demais” e até mesmo “comunistas”.
O clima de polarização política acirra ainda mais os ânimos no interior da paróquia. A Praça Portugal, um espaço tradicional de manifestações da direita, está localizada a 350 metros da Igreja da Paz. Religião e política tornaram-se duas dimensões bastante indistintas recentemente, haja vista a presença cada vez maior de discursos religiosos e de padres e pastores tanto na política partidária quanto na prática governamental.

No entanto, o que vinha transcorrendo como um conflito ideológico velado, restrito apenas ao universo cotidiano dos paroquianos, tornou-se um caso de repercussão nacional após a tentativa de intimidação promovida por fiéis da própria paróquia ao padre Lino Allegri, no último dia 4, após a celebração dominical.
De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, o perfil dos paroquianos que estariam por trás dos ataques e das hostilidades é o que segue: pessoas de classe média alta, na faixa etária acima de 50 anos e com posicionamentos conservadores. Pelo menos três dos agressores já foram identificados. Seus nomes serão preservados haja vista não haver nenhuma denúncia formalizada contra eles.

Engajado, mas à luz do Evangelho
Uma pessoa ligada à Paróquia da Paz, cuja identidade é preservada pelo blog, revela como é a atuação do padre Oliveira à frente da paróquia: “Já tá com pouco mais de três anos que o padre Oliveira chegou aqui. Ele tem um trabalho forte, positivo, de apoio às pastorais sociais. Tem um trabalho de terça missionária de evangelização nas casas, nos condomínios. A paróquia tem uma coisa já muito antiga, geralmente na terça-feira, o dia do pão de Santo Antônio, tem muitas senhoras bem idosas, algumas parecem até moradores em situação de rua, mas são das comunidades. Ele dá muito apoio a essas pessoas né? De uma maneira ou de outra, as pastorais sociais tentam ajudar”.
“Tem também o sopão que a paróquia distribui, mas é feito pela Pastoral Familiar, Encontro de Casais com Cristo, mas é um trabalho que ele também acompanha. A postura dele é uma postura engajada. Ele tem uma abordagem sempre muito consciente. O padre Oliveira critica muito as injustiças realmente de maneira geral, mas sempre fazendo a reflexão encarnando o evangelho. Quer dizer, tem leituras que favorecem mais são mais bem direcionadas a essas questões e favorecem bem a questão do discurso, mas ele nunca deixa de fazer uma conjugação da questão doutrinária, da fé com a questão social, o engajamento na vida, da fé com a vida. Engajar e encarnar o evangelho. O padre Oliveira nunca cita nem partido político, nem nome de políticos e autoridades. Se tiver alguma coisa errada, gritante, ele menciona de forma geral, no genérico”.
Conheci os Padres Lino e Ermano Allegri ainda no começo de suas jornadas no interior da Bahia nos anos de 1970 em favor dos posseiros perseguidos perseguidos por grileiros e capangas. Sinto-me feliz que ainda nessa idade avançada continuem fiéis aos princípios de solidariedade humana. Grandes exemplos de Fé e
De Luta por Justiça Social sobretudo entre os mais pobres e desamparados!
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