O gambito do Capitão: as razões por trás do anúncio da pré-candidatura de Wagner ao Governo do Ceará

Por Ricardo Moura

De forma inesperada, em pleno fim de semana, o deputado federal Capitão Wagner (PROS-CE) anunciou que será candidato ao Governo do Estado em 2022. O bom resultado obtido nas urnas de Fortaleza, em novembro do ano passado, certamente o credencia para o cargo. No segundo turno das eleições municipais, o parlamentar diminuiu a ampla diferença apontada pelas pesquisas que o separava de Sarto Nogueira (PDT-CE), fazendo com que a apuração ganhasse contornos inesperados de emoção.

Na realidade, a candidatura de Wagner ao Governo do Estado era aguardada desde as eleições de 2018. Naquele pleito, contudo, o general Guilherme Theophilo (PSDB-CE) foi o nome escolhido para ser o candidato de oposição a Camilo Santana (PT-CE). Praticamente, não houve disputa. O petista reelegeu-se com certa facilidade ainda no primeiro turno.

Se a candidatura apresenta viabilidade eleitoral e era até prevista, a surpresa reside na antecipação de colocar o nome como pré-candidato, 16 meses antes das eleições estaduais do próximo ano. A expectativa era a que o opositor do grupo político ao qual pertence Camilo Santana, em 2022, fosse o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), haja vista que ele ainda estará na metade de seu mandato no Senado.  

O movimento brusco chama atenção e coloca uma interrogação tanto sobre analistas políticos quanto no eleitorado. Talvez até mesmo por causa disso, em declaração dada na manhã de hoje, em seu perfil no Twitter, Capitão Wagner fez a seguinte afirmação: “Não entrei na política para fazer carreira. Ficar sem mandato de deputado é uma coisa muito natural, até porque eu vou concorrer ao Governo do Estado para ganhar, não vou para perder”.

A resposta de Girão, aguardada desde o anúncio da pré-candidatura, veio em tons diplomáticos: “Ele já provou que está credenciado para cumprir qualquer missão, inclusive a de liderar o estado do Ceará que há décadas vem sendo governado por uma oligarquia. É inteligente, tem capacidade política e principalmente valores morais e éticos”.

Apesar da relação amistosa entre os dois parlamentares e de Eduardo Girão ter sido o coordenador da campanha de Capitão Wagner a prefeito de Fortaleza, a antecipação do anúncio da pré-candidatura tem sua razão de ser do ponto de vista da estratégia. A participação do senador cearense na CPI da Covid, por mais polêmica que seja, concede ao parlamentar um palanque nacional inédito, com direito a forte presença midiática. Além disso, a defesa intransigente à forma como o Governo Federal atuou em relação à pandemia transforma Eduardo Girão em uma figura de proa do bolsonarismo no Ceará.

Amigos, amigos, votos à parte, Capitão Wagner percebeu que corre o risco de perder terreno em meio ao eleitorado de direita no Estado. As eleições de 2022 trazem consigo um elemento novo e bastante sedutor: o fim de um ciclo político e a possibilidade de estabelecer uma nova linhagem. Daí a ênfase em se posicionar como o candidato mais capaz de romper com a “oligarquia”, ou melhor, com a aliança PT-PDT que se mantém no poder estadual desde o primeiro mandato de Cid Gomes, em 2007.

Ser o governador que dará início a uma nova era na política cearense é uma meta atraente demais a ponto de se colocar em risco uma reeleição dada como certa para o Congresso Nacional. Não se trata, contudo, de um delírio. Vale lembrar a dificuldade que foi de se escolher um nome para suceder o prefeito Roberto Cláudio (PSDB-CE). Esforço semelhante deverá ocorrer na indicação de um candidato para o Governo do Estado, haja vista que a dobradinha PT-PDT corre sério risco de se esfacelar caso Ciro e Lula realmente se candidatem à presidência em chapas concorrentes.

No campo da direita, Wagner já movimentou suas peças no tabuleiro eleitoral. Cabe aguardar agora as próximas jogadas de Eduardo Girão. Se obtiver um desempenho como protagonista na CPI, o senador do Podemos certamente se tornará um nome fortíssimo para o Governo do Estado em 2022. O mais previsível é que o assunto esfrie até o início do ano que vem quando as primeiras pesquisas de intenção de voto vierem à luz. Só então saberemos se o gambito do Capitão será bem-sucedido ou se ele, na verdade, terá levado um xeque-mate em suas pretensões eleitorais.

Sobre o gambito. Trata-se de uma manobra de abertura no xadrez em que um peão é oferecido ao adversário para se obter uma posição mais vantajosa, seja para romper a defesa central do tabuleiro seja para organizar um ataque mais rápido ou eficiente.   

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