Seminário do LEV aborda dimensões variadas da violência urbana

O laboratório de pesquisa, conforme explica César, comemora este ano 30 anos desde a sua fundação. Ao longo deste período, temas relacionados à violência urbana ganharam destaque dos pesquisadores da entidade

Por Luiza Vieira

O Laboratório de Estudos da Violência (LEV), vinculado ao Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), iniciou na última terça-feira, 16, a sétima edição do Seminário Internacional de Violência e Conflitos Sociais. O evento seguirá até hoje, no Centro de Humanidades da UFC. 

Na ocasião, o fundador do LEV e sociólogo, César Barreira, mediou o debate, que teve como participantes a professora Tiphaine Duriez, da Université Lumière Lyon II, na França, e o professor e pesquisador Lourenço Cardoso, da Unilab. 

O laboratório de pesquisa, conforme explica César, comemora este ano 30 anos desde a sua fundação. Ao longo deste período, temas relacionados à violência urbana ganharam destaque dos pesquisadores da entidade. 

“O tema mais amplo terminou sendo a questão da violência urbana. Nela, houve um certo direcionamento na questão das políticas públicas, bem como um direcionamento para a juventude e para a mulher”, explicou. 

Para o pesquisador, as análises visam, também, entender a violência urbana localizada nas periferias. Ele reitera que o intuito é encontrar “explicações para toda esta violência”.

“Existe um certo deslocamento, porque, num momento é políticas públicas de segurança, no outro você está trabalhando mais a violência contra a mulher, a questão do feminicídio”, compartilhou. 

A declaração do fundador do LEV faz referência à onda de homicídios contra mulheres no Estado do Ceará, recentemente. De acordo com levantamentos parciais realizados por portais de notícias, cerca de 86 mulheres foram mortas nos últimos quatro meses. 

Apesar da amplitude de assuntos estudados no laboratório, César afirmou que a atuação de facções criminosas no Estado continuam sendo o “grande tema de estudo do LEV”, assim como o tráfico de drogas e de armas. 

Juventude e violência

Quando questionado acerca da participação ativa dos jovens e da sociedade nas discussões, o pesquisador afirmou que as pessoas adentram na temática por estarem “próximas ao laboratório”.

“A juventude não deveria se preocupar com violência, deveria estar preocupada com a questão da arte, da cultura”, prosseguiu. “Mas temos muita procura de bolsistas, a questão dos alunos que tentam se aproximar dos professores para continuar trabalhando essa temática também é um exemplo”. 

O pesquisador e professor da Unilab, Lourenco Cardoso, explicou a importância do seminário promovido pelo LEV e a relevância do Estado do Ceará nas pesquisas sobre segurança pública. “É mais uma questão com Fortaleza e as grandes cidades porque Fortaleza é uma cidade grande, muito violenta e tem as especificidades do Nordeste, que é diferente do Sudeste e Centro-Oeste”, seguiu. “As drogas têm chegado, também, às cidades pequenas e impactado a violência”.

Evento do LEV reúne pesquisadores nacionais e estrangeiros

Lourenço explica que o alto índice de violência decorre das organizações oriundas dos presídios que, segundo ele, é uma questão globalizada. “A gente precisa ver se tem rivalidade de grupos de outras regiões que querem chegar ao Nordeste, grupos originários do Sudeste que queiram dominar o território nordestino”, pontuou.

Março mais violento 

No último dia 15, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) divulgou um relatório consolidado de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), englobando homicídios dolosos, feminicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte no Estado do Ceará. Os dados são referentes ao mês de março. 

Os registros fazem do mês passado o março mais violento do Estado do Ceará desde 2020. Questionado sobre o relatório, o fundador do LEV, César Barreira, defendeu que não existe uma explicação clara que justifique a quantidade de mortes, contudo, ressalta que a taxa integra uma rede de violência cíclica, que pode aumentar ou diminuir ao longo do ano. 

“É uma coisa meio cíclica ter um aumento e depois uma diminuição, pelo menos pra mim, não tem explicação clara. Porque, vamos supor, você tem um aumento de circulação de arma de fogo, então automaticamente você vai ter um aumento de violência”, defende o pesquisador.

E retoma: “Violência não dá pra explicar só por uma única coisa, são vários fatores que implicam. Estamos sempre numa gangorra, que sobe e desce. Não pode dizer que está havendo uma diminuição nem um aumento porque precisa de vários anos pra você provar isso”. 

No entendimento do sociólogo e professor Lourenço Cardoso, a sociedade está sendo impactada pela violência, que vem sendo propagada, dia após dia, por meio de programas televisivos. “Tem um show sobre violência que é a televisão, assim como o cotidiano, essa questão de do poder das organizações criminosas referente ao tráfico que, algumas, segundo os investigadores, estão quase no patamar de uma máfia. Está entrando no espaço da política das pequenas e grandes cidades”, explica. 

O Seminário 

Promovido pelo Laboratório de Estudos da Violência, o VII Seminário Internacional traz como tema de debate a Violência e Conflitos Sociais: Relações de Poder e Segurança Pública. 

Com duração de quatro dias, a iniciativa dispõe de uma programação ampla, desde mesas de conversa e lançamentos de livros à feirinha gastronômica, artística e literária.

Confira a programação de sexta-feira, 19:

8h30 às 12h: GTs 

10h: Mesa 7 – Trajetórias de Pesquisa com Pablo Nunes (Rede de Observatórios de Pesquisa); Marcos Silva (Unilab); Leonardo Sá (UFC) e Pedro M.Loureiro (University of Cambridge).

14h às 16h: Mesa 8- Fluxos prisionais com Karina Biondi (Uema); Fernando Rodrigues (Ufal); Ítalo Barbosa (UFC); Rafael Godoi (Uema) e Juan Martens (Universidad Nacional de Pilar, Uruguai). 

16h às 18h30: Mesa 9- Efeitos da Violência com Pedro Henrique Coelho (UEA); Flávia Melo da Cunha (Ufam); Eduardo Paes (UFBA); João Paulo Ferreira (UFC) e Rochele Fellini (UFRGS). 

19h: Conferência de encerramento 

Local: Adufc 

  • Crises em conflito ou produção? Violência, meio-ambiente e capital no Brasil contemporâneo- Graham Denyer Willis (University of Cambridge);
  • La Gramatica Social de la Violência: Entre el Estado y el Crime Organizado- Roberto Briceño-Leon (Universidad Central de Venezuela).

Deixe um comentário