Objetivo do curso promovido pela Fundação Demócrito Rocha é estabelecer um diálogo tanto com agressores quanto com homens que possam monitorar a violência contra a mulher no seu dia a dia
Por Dayanne Borges
A Fundação Demócrito Rocha está lançando o curso “O papel do homem no enfrentamento à violência contra mulher”, gratuito, com 48 horas/aula, na modalidade a distância (EaD). O público-alvo é formado por homens a partir de 16 anos, profissionais da segurança pública, professores e demais profissionais da educação, líderes comunitários, agentes de saúde, gestores públicos, profissionais da saúde e os demais interessados sobre o tema. As inscrições para o curso de extensão já estão abertas e podem ser feitas pelo site: https://fdr.org.br/violenciacontramulher/
Leila Paiva, presidente da comissão de Direitos Humanos da OAB-CE e coordenadora de conteúdo do curso, afirma que a expectativa é chamar a atenção do público para um tema que não tem sido debatido como deveria. “Visamos orientar não só o público masculino, mas a sociedade como um todo. A intenção é dialogar tanto com os agressores quanto com homens que possam vir a monitorar a violência contra a mulher no cotidiano”, explica.
Segundo a advogada, a educação influência diretamente na formação da masculinidade tóxica. “A dúvida se é um menino ou menina em uma gestação não é por acaso. Isso vai determinar a roupa escolhida e o tipo de brinquedo dado a criança e, por consequência, acaba criando uma relação de poder. Então, esse fator determinante que ocorre desde o nascimento é fundamental que seja tocado e mudado”, afirma.
Leila Paiva destaca que a legislação brasileira é referência internacional no tema, haja vista a Lei Maria da Penha, mas o cenário de violência ainda é grave. Frisou também que o ambiente lar nem sempre é harmônico, como se costuma apregoar. “Apesar desses casos acontecerem dentro de casa, eles não são do cunho privado e têm de ser discutidos do ponto de vista público, têm de ser denunciados”. Vale ressaltar que a Lei Maria da Penha passou por uma alteração recente, contemplando também casos de violência psicológica, que podem ser identificados por: humilhação, xingamentos, proibições e desconfianças.
A advogada considera ainda a violência contra a mulher como uma violência multifacetada. Para tanto, o corpo de facilitadores abrange um grupo diversificado de mulheres, homens, militantes, advogadas, acadêmicos, integrantes de movimentos sociais e parlamentares. Leila Paiva revela que também buscou profissionais de vários lugares. Além de formar, o curso visa ainda a construção de uma rede de prevenção.
Sobre o curso
O curso “O papel do homem no enfrentamento à violência contra mulher” é uma realização da Fundação Demócrito Rocha e da Universidade Aberta do Nordeste (Uane), com apoio da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e patrocínio da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.
Realizada de forma remota, a capacitação contará com quatro módulos que poderão ser replicados por meio de videoaula, radioaula e fascículos. Recursos como lives, programas de TV e e-book também serão utilizados. O material estará disponível no site do projeto. A certificação será emitida pela Uece, com carga horária de 48 horas/aulas.
Os temas de cada fascículo são:
Módulo 1: Violência de gênero e modelos de masculinidade – Impactos das masculinidades tóxicas.
Módulo 2: A construção dos modelos de masculinidade – Infância, corpo e escola.
Módulo 3: Violência contra a mulher e relações de poder – Relações dependentes e possessões.
Módulo 4: Homens na sociedade ocidental – Os impactos produzidos pelas mudanças nas relações de gênero.