Casos recorrentes de violência nas corridas fizeram com que a 99 buscasse alternativas para deixar o trajeto mais seguro tanto para motoristas quanto para passageiros. No Ceará, os índices de violências totais contra motoristas é de 70%. Os casos graves representam 92%.
Por Dayanne Borges
O aplicativo 99 lançou, no mês passado, novos recursos de segurança para motoristas parceiros. Um dos destaques é a ferramenta “Validação de Acesso”, que utiliza uma solução de prevenção de fraude da Serasa Experian para verificar se os usuários são realmente os donos dos CPFs informados por meio de um questionário. A empresa criou ainda um novo modelo de mapeamento de áreas de risco que permite aos condutores colaborar com a identificação dessas regiões. Por fim, estará presente no aplicativo um sistema de digitalização de RG, que fará a checagem instantânea dos documentos de identidade.
As medidas visam aumentar a segurança de quem realiza viagens por meio de aplicativos. Segundo o levantamento da Associação dos Motoristas de Aplicativos do Ceará (AMAP-CE), 16 condutores morreram em 2020, um recorde para a categoria. Para efeito de comparação, foram registrados três casos em 2019, dois em 2018 e 12 em 2017.
De acordo com a 99, os motoristas são hoje as maiores vítimas da violência em corridas de aplicativo: dentre todas as ocorrências contabilizadas nacionalmente, 63% têm como alvo os condutores. Levando em conta apenas os casos mais graves, como roubos e sequestros, os motoristas correspondem a 87% das vítimas. No Ceará, o índice de violências totais contra motoristas é de 70% do total de ocorrências de segurança verificadas pelo aplicativo. Se forem somados apenas os casos graves, esse percentual chega a 92%.
É sabido que as empresas de mobilidade não ofertam um vínculo formal trabalhista para quem presta serviço ao aplicativo. O que existe é uma relação de “parceria” com um trabalhador autônomo. Diante dos números da violência, o Blog Escrivaninha questionou à 99 como a empresa procede caso o motorista tenha sido vítima de algum ato de violência. A companhia alega que oferece ao parceiro câmeras de segurança, gravação de áudio e monitoramento da corrida em tempo real. O pacote de recursos completo pode ser encontrado no site da companhia. Essas iniciativas teriam ajudado a reduzir 75% das ocorrências graves. Além disso, segundo a 99, desde o aceite da corrida até a finalização das chamadas, motoristas e passageiros estariam protegidos em suas viagens realizadas pelo aplicativo por um seguro contra acidentes pessoais de até R$ 100 mil.
Para se tornar cliente da 99 é importante disponibilizar uma relação de documentos. Esse método também é exigido no cadastramento dos condutores, visando assim a segurança de ambos. Para ser um motorista parceiro é necessário uma selfie do condutor segurando a habilitação, bem como fotos do documento e do licenciamento do veículo, permitindo à empresa analisar o histórico público do candidato com a papelada solicitada.
Inteligência artificial e abertura para parcerias
No último ano, a 99 afirma ter investido R$ 35 milhões em segurança, o que teria resultado na redução de 29% das ocorrências graves na plataforma, por milhão de corridas, entre janeiro e dezembro de 2020. Entre as novidades divulgadas pela companhia estão o Hércules, uma inteligência artificial (IA) que verifica padrões de comportamentos de risco, bloqueia a chamada e só a libera após validação de dados do passageiro; e o Cubo, uma IA que age para evitar que motoristas sejam direcionados para áreas com indícios de violência.
Questionada sobre os riscos trazidos por equívocos cometidos pela IA, cujos resultados podem levar a distorções, a 99 revelou contar com uma equipe de 190 especialistas nas áreas de tecnologia, psicologia e segurança pública a fim de complementar as análises feitas por computador. Em relação a investimentos ou parcerias com governos e entidades da sociedade civil, tendo em vista a melhoria das condições de segurança como um todo, a companhia informou estar aberta ao diálogo com o poder público para construir soluções benéficas que melhorem a segurança da plataforma.
Sobre a 99
A 99 é uma empresa de tecnologia que oferece conveniência e soluções para o transporte urbano. O aplicativo faz parte da companhia global Didi Chuxing (“DiDi”) e no Brasil conecta mais de 20 milhões de pessoas a serviços de mobilidade, pagamentos e entregas. Estima-se que a companhia possua mais de 600 mil motoristas parceiros no País.

CONHEÇA AS NOVAS MEDIDAS DE SEGURANÇA DA 99
Validação de Acesso. Em corridas identificadas como de risco, e também de forma aleatória, o app envia a passageiros um quiz com base nos dados do CPF inserido. O objetivo é evitar a utilização da documentação de outras pessoas.
Digitalização de RG. A 99 também vai passar a solicitar dos passageiros uma foto do documento de identidade, utilizando a câmera do celular do próprio usuário. O sistema verificará instantaneamente se ele é verdadeiro ou não, e funcionará para todos os modelos atualmente existentes. Além de prevenir eventuais fraudes, a tecnologia vai facilitar o cadastro, já que dados serão copiados automaticamente da cédula, em vez de ser digitados.
Assistente de segurança. O motorista terá acesso rápido e claro, na tela de aceite, às informações do passageiro, como: verificação de CPF e cartão, foto, frequência de uso, nota e categoria da corrida (por exemplo, 99Pop ou 99Comfort). Outros recursos dessa ferramenta são a gravação de áudio, compartilhamento de rotas, botão de ligar para a polícia, além do contato da Central de Segurança emergencial da companhia, disponível 24h.
Colaboração dos motoristas. Após a corrida, a 99 envia um pop-up ao condutor para saber se a corrida aconteceu em uma área de risco. A classificação se juntará às demais informações estatísticas analisadas pela Central de Segurança do aplicativo. Ao todo, 382 mil motoristas já colaboraram, em menos de um mês de testes.
Mapeamento Dinâmico. O zoneamento não é fixo e agora pode variar de acordo com fatores como a hora do dia. Por exemplo, uma região comercial movimentada no período de trabalho, mas deserta à noite, pode ser considerada como de risco somente após determinados horários.
INSEGURANÇA É UMA DIFICULDADE COTIDIANA
Há um ano e três meses trabalhando com a 99, Silas (nome fictício) relatou suas experiências vividas como motorista parceiro. Além da plataforma 99, ele também realiza corridas por aplicativos concorrentes como a Uber e o inDriver. O condutor contou que a principal dificuldade do seu trabalho é a insegurança. Silas revela que a preferência dos motoristas costuma se dar por outras plataformas, haja vista que a 99 não forneceria um suporte de segurança de qualidade. “A facilidade de o passageiro fazer o cadastro e a ocultação do histórico do passageiro na plataforma dificulta muito”, menciona. Até o momento em que foi procurado pela reportagem, ele desconhecia as inovações promovidas pela companhia.
O motorista comenta um episódio em que seu colega de profissão foi prejudicado: o condutor pegou dois passageiros no hospital Instituto Dr. José Frota (IJF), com destino ao mangue da Sabiaguaba. Chegando lá, foi amarrado e teve seu carro roubado. Segundo Silas, em caso de alguma ocorrência, a companhia 99 oferece um suporte, mas ele não compreende como se dá o funcionamento desse amparo. Conforme o motorista, existe muita burocracia para conseguir o acesso ao cadastro jurídico.
Silas desabafa: “As pessoas não imaginam o que um motorista de aplicativo passa em termos de segurança, dificuldades e apoio. Essas plataformas de aplicativo ganham muito dinheiro. Elas deveriam tratar melhor os motoristas, dar uma segurança a mais e conscientizar sobre como o passageiro deve tratar o motorista. Eu acho que está faltando isso na plataforma.”