A vítima se encontra em estado grave no Instituto Dr. José Frota (IJF) e aguarda uma vaga na UTI. O agressor está detido na Delegacia de Capturas. A mulher teve 80% do corpo queimado
Por Luiza Vieira
Na noite desta segunda-feira, 12, uma mulher foi vítima de uma tentativa de feminicídio no Polo de Lazer da Av. Sargento Hermínio, em Fortaleza. Talita Lopes Falcão, de 34 anos, teve 80% do corpo queimado pelo ex-marido, Jorge Luiz Santos de Carvalho, de 41 anos. Ambos viveram juntos durante nove anos e, como fruto do relacionamento, tiveram uma filha, que atualmente tem quatro anos. O crime teria sido motivado porque Jorge não aceitava o término da relação, decisão tomada por Talita há aproximadamente um ano.
Durante o tempo em que estiveram juntos, o agressor já demonstrava atitudes manipuladoras contra a vítima, como violência psicológica, por exemplo. Foi então que Talita resolveu romper o relacionamento e ir morar com a mãe e a filha. Contudo, a resistência de Jorge em não aceitar a separação motivou Talita a iniciar o processo jurídico de guarda unilateral com pedido de urgência. A tutela provisória foi concedida.
Além disso, com o apoio da advogada Mariana Diniz, a vítima foi à Delegacia da Mulher e fez um boletim de ocorrência contra o agressor, uma vez que estava sendo ameaçada por ele. “Ele ligava incessantemente para ela, ficava no trabalho dela com o carro esperando, na casa dela também, ele ficava esperando com o carro, pra saber se ela saía com alguém”, relata a advogada responsável pelo caso.
De acordo com familiares da vítima, o relacionamento de ambos se desgastou não apenas pelo comportamento de Jorge, mas também pela acomodação, uma vez que ele não trabalhava e dependia de Talita. As medidas protetivas estavam em processo de renovação. No entanto, há cerca de três meses, a mulher optou por retirar da Justiça o processo pela guarda da filha. A família acredita que a desistência do caso pode ter sido motivada após a mulher sofrer pressões por parte do agressor. A juíza concedeu o pedido.
Ainda na segunda-feira, Talita entrou em contato com Mariana para retomar o processo de guarda, haja vista que a situação entre o pai da criança e ela havia piorado. O encontro com a profissional foi marcado para sexta-feira, 16. Contudo, foi tarde demais e o crime havia sido cometido.
O crime
Na noite da segunda, Jorge chamou Talita para uma conversa e buscou a vítima em casa às 21h30. De lá, ambos se dirigiram ao Polo de Lazer da Sargento Hermínio. A mulher saiu de casa sem o aparelho celular, o que chamou a atenção da mãe da vítima, que ficou em casa com a filha do casal.
Conforme as pessoas presentes no local, Talita e Jorge discutiram e ela saiu do carro, no mesmo instante. O agressor, então, arremessou uma substância inflamável em Talita e ateou fogo nela. Durante o tumulto, a vítima pediu socorro e um amigo a levou até o hospital. Jorge, por sua vez, fugiu correndo do local após o crime, que aconteceu por volta das 22 horas.
Na madrugada, o homem apresentou-se por conta própria no 34° Distrito Policial (Centro). A prisão em flagrante de Jorge foi convertida em preventiva. No momento, Jorge Luiz Santos de Carvalho está detido na Delegacia de Capturas de Fortaleza (Decap) de onde será encaminhado para a triagem e, posteriormente, levado ao presídio.
De acordo com o advogado Renan Conde, que também acompanha o caso de Talita, a prisão preventiva de Jorge não tem um tempo determinado. A categoria da detenção se dá quando o indivíduo, estando em liberdade, causa insegurança.
“O único prazo que existe em lei é o prazo de 90 dias, que não significa necessariamente que ele (Jorge) vai ser solto, mas que a prisão dele vai ser revista”, explicou. “O juiz que hoje decretou a prisão vai passar 90 dias desta decisão e vai chegar uma nova juíza, que é o juizado de violência doméstica. Lá, essa juíza vai avaliar se a prisão preventiva dele ainda é necessária. A prisão pode ser revista a cada 90 dias, o que não significa que ele vai ficar preso até o final do processo”.
O advogado reforça que a defesa de Talita vai lutar para que Jorge continue preso durante o processo, aguardando a sentença, visto que, em caso de soltura, o agressor coloca não só a vítima em risco, mas toda a sua família.
A ação foi planejada pelo criminoso, uma vez que, foram encontradas, pela Polícia Civil, três cartas, uma escrita à mão e duas digitadas, no carro que pertencia à vítima, mas que estava na posse de Jorge. Os bilhetes escritos pelo agressor revelavam que ele planejava agredir e matar Talita e depois cometer suicídio, afirmando que a jornada dele se encerrava ali.
No momento, Talita está internada no Instituto José Frota (IJF) no setor vermelho, com 80% do corpo queimado. O estado da vítima é grave e aguarda uma vaga na UTI da mesma entidade.
Canais para denúncias:
Central de Atendimento à Mulher: disque 180
Delegacia de Defesa da Mulher:
Tel: (85) 3108-2950
Rua Teles de Sousa, Bairro Couto Fernandes- Fortaleza-CE
E-mail Institucional: ddmfortaleza@policiacivil.ce.gov.br
